sábado, 3 de novembro de 2012

COMO FERRAR COM A MONTAGEM DE UM PEDAL.



Nem tudo corre do jeito que a gente quer. E no começo isso quer dizer: a maioria das vezes.

E quem sou eu pra ficar aqui, dizendo um monte de coisas sobre montagem de pedais? Ninguém. Não sou engenheiro nem técnico de eletrônica; não sou do ramo de áudio ou acústica; até o raio da guitarra eu todo mal pra cacete (mas me divirto à vera). Comecei a brincar com pedais justamente porque sempre foi um assunto que me atiçava a curiosidade, e, além disso, representava um desafio enorme, já que uma das minhas frustações era a de nunca ter conseguido sequer soldar um fio decentemente. Minhas soldas eram bolotas gigantes, que se assoprasse descolavam e saíam rolando. Mas sou teimoso e cabeça-dura; um belo dia disse pra mim mesmo que eu tinha que aprender a fazer uma solda e pronto! Perguntei pra todo mundo que sabia soldar as dicas, pesquisei na internet e num belo dia tomei coragem,  peguei uma placa velha e fiquei tentando. Aí consegui. 
Desde então me animei e, por conta própria, comecei a pesquisar sobre as funções dos principais componentes, ligações em série, cálculos, etc, etc. Não sei muito, na verdade sei bem pouquinho, mas deu pro gasto. Hoje consigo montar meus pedaizinhos e até entender os papos mais cabeçudos nos fóruns especializados.
Essa lenga-lenga toda que eu escrevi só serve pra dizer o seguinte: não sou da área de eletrônica, mas acho que posso, pela minha experiência autônoma, passar umas dicas pra quem quiser economizar material, tempo e stress. Para começar, acredite: se seu projeto de pedal não funcionou, a culpa é 99,99% sua, seu bocó. 
Na minha experiência só houve uma vez que o projeto tinha um erro no desenho, mas nem chegou a me atrapalhar, porque eu vi a tempo e corrigi antes de fazer a montagem dos componentes. No restante das vezes as causas de um pedal não funcionar de primeira se resumiram a três, que eu poderia (ou deveria) ter evitado:
1 – eu me confundi no posicionamento dos componentes;
2 – usei componentes de má qualidade;
3 – tive preguiça de caprichar na conferência das ligações antes de finalizar a montagem.

Então vamos lá, ver cada um desses pecados.

Posicionamento dos componentes

Isso aconteceu duas vezes, a segunda bem recentemente. Até por um excesso de confiança (“—Ah, já tô craque nisso.”), fui no embalo e posicionei um capacitor eletrolítico invertido. Quer ver? Dá uma olhada nesta foto e me diga o que você vê de estranho:




Viu? Não viu? Então observa aquele capacitor gigante que tem lá no final da placa à direita. Repare que a listra branca está virada pra esquerda, e no esquema ele está ligando uma trilha ao terra, que geralmente corre ao redor da placa. Ora, então a listra branca, que marca o polo negativo do capacitor, tem que estar virada pro outro lado, senão a ligação está em curto. Evidentemente que deu merda. Além do som ter ficado “estranho”, embora não muito, o capacitor começou a esquentar e a ficar com a cabeça estufada. Talvez por ser de uma voltagem (63V) maior que o que a gente usa normalmente nos pedais, ele aguentou mais tempo, mas na segunda vez que eu liguei o pedal para testar, ele deu um estalo bem grande e eu tomei um susto. Abri e fui ver o que poderia ser e lá estava o bichão, escorrendo óleo e com o topo rasgado. Só aí que eu me dei conta do que tinha acontecido. E claro que logo imaginei que o lay-out do projeto estava errado, que o projetista vacilou e tudo mais. Que nada. A anta era eu mesmo, que não prestei atenção no que estava fazendo e dei mole. Sorte que eu tinha outro capacitor igual para substituir e não houve prejuízo em nenhum componente.
Então, PRESTE ATENÇÃO NO QUE ESTÁ FAZENDO! Eu dei sorte, mas em outras situações você pode perder componentes caros, como CIs ou transistores. Aliás, cuidado quando usar componentes “equivalentes”, especialmente transistores, porque os pinos podem variar mesmo sendo equivalentes. Confira o datasheet antes de espetar o cara na placa; em caso de dúvida, use um soquete que vai facilitar você para testar e mudar o posicionamento, sem ter que ficar dessoldando as peças.
E por falar em dessoldar, uma dica muito valiosa é começar a posicionar os componentes na seguinte ordem: 1) jumpers; 2) soquetes de CIs; 3) resistores; 4) diodos; 5) soquetes de transistores; 6) capacitores de poliéster; 7) capacitores cerâmicos; 8) capacitores eletrolíticos; 9) trimpots e 10) fiação. Só espete os CIs e transistores na hora de fazer os testes.

Por que começar pelos jumpers? Eu iniciava com os soquetes de CIs, porque eles nos ajudam a localizar melhor a posição dos outros componentes, quando utilizamos uma placa feita em casa, sem os desenhos dos componentes gravados no fenolite. Mas por duas vezes tive que jogar fora as placas porque depois de soldar os soquetes dos CIs eu reparei que por debaixo de um deles havia um jumper. Resultado: tive que sacar o soquete, e mesmo usando sugador de solda com toda paciência do mundo, as trilhas ficaram cagadas. E isso não foi o pior. Quando fui recolocar o soquete no lugar, o contato ao redor do furo onde passava um dos pinos do soquete acabou subindo junto com o pino, descolando do fenolite (acredite: isso aconteceu nas duas vezes em que esse acidente se deu). Ficou tudo uma merda, uma lambança só, porque eu tentei remediar a situação fazendo uma trilha com a solda e, no final, o pedal não funcionou direito. Perdi dois dias de montagem e tive que começar tudo de novo, desde a gravação da placa. Agora sempre começo pelo jumper; nesta eu não caio mais!

Só utilize componentes de boa ou ótima qualidade

Fora com as peças vagabundas! Não vou nem dizer pra não usar xingling, porque hoje em dia tudo vem de lá, até os de boa qualidade...
A melhor maneira de se precaver ainda é a seguinte: veja todas as opções que existem de um componente. Tá muito baratinho? FUJA!!!!!! Não tem jeito, peça boa custa mais caro mesmo, mas no final compensa cada centavo. Vou dar um exemplo com a peça em que isso fica mais evidente: o potenciômetro. Quando eu não sabia disso, cheguei a refazer um pedal três vezes, porque não funcionava de jeito nenhum. Como não tinha muita confiança em mim mesmo, achava que tinha feito alguma besteira que não conseguia visualizar. Quando percebi que o problema se resolvia quando eu comprava novos potenciômetros (ainda que baratos) eu desconfiei que este era um problema crônico deles. Pesquisei daqui e dali e vi que havia marcas consagradas de potenciômetros e que aqueles que eu comprava, tanto em lojas físicas quanto na internet, não tinham marca nenhuma. Percebi também que os potenciômetros de grife só eram vendidos em sites estrangeiros ou então em fornecedores de sites de leilões (que importavam). Resolvi fazer uma experiência e encomendei numa loja dos EUA uns potenciômetros ALPHA. Bingo! Nunca mais tive problema.


Até hoje nenhum potenciômetro de boa marca que comprei veio com defeito, nenhum! Dos vagabundos, de cada quatro três vinham ruins. Isso se repete com chaves em geral (tipo HH, DPDT, SPST, 4PDT, etc), CIs, jacks (estes quase sempre giram o miolo do terra quando a gente aperta com a chave), trimpots e outra coisinhas. Portanto cuidado, desconfie de componentes baratinhos. VAI DAR CÁCA NO FINAL!

Confira a qualidade do seu trabalho em cada fase. Deixe de preguiça.

Você vai evitar muita dor de cabeça ao conferir, para cada etapa, com muita paciência, se tudo que você fez está direitinho. E que etapas são essas? Depende do seu processo de montagem. Se você é como a maioria, que faz sua própria plaquinha PCI (porque comprar ela já pronta sai muito mais caro, embora seja de excelente qualidade), vai ter que começar a garantir a qualidade já na hora em que imprime o layout. Vou tentar separar e comentar as etapas, de acordo com meu “procedimento padrão”.
1) Confecção da placa PCI.
- ao imprimir no glossy paper (com impressora a laser, claro), verifique com uma lupa se o toner está bem gravado no papel. Procure por falhas, manchas, linha finas demais, etc, que possam comprometer a transferência térmica que você vai fazer em seguida.
- depois de a transferência térmica ser feita e antes de gravar com o percloreto de ferro, use novamente a lupa para conferir se não ficou nenhuma falhinha, às vezes microscópica, em alguma trilha. Desconfie de linhas meio “granuladas” ou borrões. Se houver falhas, mesmo muito pequenas, use uma caneta de retroprojetor para reforçar bem o desenho. Só pare quando tiver certeza absoluta que não deixou de examinar nenhuma linha e nenhuma conexão.
- depois de gravar com o percloreto repita o exame com a lupa. Se mesmo depois de gravada a placa você encontrar alguma falha, use a caneta de retroprojetor para marcar o local de cada falha. Em seguida venha com o ferro e corrija a falha com solda (muito bem feitinha, nem preciso dizer...)
2)Depois de soldar cada grupo de componentes
Novamente use a lupa para verificar se as soldas não estão encostando umas nas outras. Eu tenho como regra pegar um estilete e passar entre todos os pontos de solda que não são unidos no projeto, mesmo que não pareçam estar encostados. Também verifique se alguma solda não ficou malfeita ou pela metade (às vezes parece que ficou uma boa solda, mas com a lupa a gente percebe que pegou mais em um lado do que em outro. Veja o exemplo no destaque da foto.). Corrija.



 3)  Depois de soldar a fiação na placa
Repita toda operação descrita no item anterior.
4) Depois de prender jacks, potenciômetros e pedal de acionamento
Confira pela última vez, comparando com o esquema de ligação do projeto.

Pronto. Agora é só montar na caixa, apertar bem as porcas de fixação (para evitar problema de aterramento), espetar CIs e transistores, ligar na guitarra e na caixa e correr pro abraço.
Pode acreditar, o pedal vai funcionar.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

CYCLOPE CORROSION DISTORTION - Um DOD da pesada.



Outro dia estava passeando no fórum do Handmades e acabei entrando numa conversa sobre um esquema que tinha sido achado por alguém, de um pedal clássico, década de 70, que pouca gente conhecia. Era um tal de DOD FX70C, apelidado de Corrosion Distortion pelo fabricante DOD. Daí a galera se entusiamou e depois de muito lero-lero alguém se prontificou a tentar fazer um lay-out a partir do esquema.
Passado um tempo, surgiu o desenho, postado lá pra quem quisesse testar. Quando vi o desenho da placa, pensei: "Por que não? Vai que fica bom..." O que me encheu de curiosidade foi que o projeto previa o uso de três CIs (4558 originais) e 5 transistores. Pô, se um pedal de distorção, como o RAT, usando um CI só, já tem aquele som todo, fiquei imaginando como seria esse tal de Corrosion - ainda mais com um nome desses...
Levantei o dedo - virtualmente, é claro - e disse: "Eu vou fazer! Depois posto aqui os resultados."

Encomendei as peças todas que eram necessárias (evitei usar peças da minha sucata, para evitar qualquer risco) e comecei a montar.















Depois de montado testei em casa, no meu cubinho e fiquei impressionado. Primeiro porque funcionou de primeira. Segundo porque o som distorcido do pedal é mesmo brabo. Ele já começa heavy desde o comecinho do potenciômetro. Com ele não tem aquela fase overdrive: já entra na pauleira mesmo com só um pouquinho de drive.

 Enfim, foi uma boa surpresa. Batizei como "Cyclope Metal Soul", fiz um adesivo pesadão e filmei um mini-demo para postar no Youtube.




A qualidade do vídeo não é grande coisa, porque usei o celular numa sala sem nenhuma proteção acústica, com som da rua aparecendo e tudo o mais. Mas deu pra ver que o som do pedal é de respeito.
Recomendo para quem quer se divertir muito montando e pleiando.